quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O desconhecido amor

Meu coração está em ti
Como uma oração 
A sorver tudo que o universo
Tem a nos oferecer esta noite
junto do cântico eterno do sertão
E o olhar que eu sonhei para mim e ti
Se resvala no sentimento
Do amor que se completa
Na vastidão do céu
Que segue a existir
Sem que eu te diga nada.
Nossas lágrimas conversam
E se entendem na mesma forma
De sentir.
Esse é o prelúdio
Repleto de êxtase
Melodia
E tantos pensamentos
Acompanhados de murmúrios
A revelar os versos embalsamados
De vida em um lar de estrelas.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

DiaD



Consideração do poema (Carlos Drummond de Andrade)


Não rimarei a palavra sono
com a incorrespondente palavra outono. 
Rimarei com a palavra carne
ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
elas saltam, se beijam, se dissolvem,
no céu livre por vezes um desenho,
são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho
ou apenas um rastro, não importa.
Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
de toda a precisão se incorporam
ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius
sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
chamejante. Me perco em Apollinaire. Adeus, Maiakovski.
São todos meus irmãos, não são jornais
nem deslizar de lancha entre camélias:
é toda a minha vida que joguei.

Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Que se depositem os beijos na face branca, nas principiantes rugas.
O beijo ainda é um sinal, perdido embora,
da ausência de comércio,
boiando em tempos sujos.

Poeta do finito e da matéria,
cantor sem piedade, sim, sem frágeis lágrimas,
boca tão seca, mas ardor tão casto.
Dar tudo pela presença dos longínquos,
sentir que há ecos, poucos, mas cristal,
não rocha apenas, peixes circulando
sob o navio que leva esta mensagem,
e aves de bico longo conferindo
sua derrota, e dois ou três faróis,
últimos! esperança do mar negro.
Essa viagem é mortal, e começá-la.
Saber que há tudo. E mover-se em meio
a milhões e milhões de formas raras,
secretas, duras. Eis aí meu canto.

Ele é tão baixo que sequer o escuta
ouvido rente ao chão. Mas é tão alto
que as pedras o absorvem. Está na mesa
aberta em livros, cartas e remédios.
Na parede infiltrou-se. O bonde, a rua,
o uniforme de colégio se transformam,
são ondas de carinho te envolvendo.

Como fugir ao mínimo objeto
ou recusar-se ao grande? Os temas passam,
eu sei que passarão, mas tu resistes,
e cresces como fogo, como casa,
como orvalho entre dedos,
na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O devir nogueiriano (Por Ciça Buendía)



O corpo – dizem – já não será o mesmo
Olha o meu corpo antigo na curva do chafariz
Alguém falou de um modo descuidado
O corpo – dizem – já não será o mesmo,
Porque naquele tempo
Saí pelo ancoradouro embriagada
Todos eram demais e não sabiam
Digo que continua urgente a ilusão desse momento
Como dizer, sem te estranhar: recusa-me
A blusa de cetim verde tem um decote de princesa judia
Fecha os olhos e pensa no que quiseres
Porque o espírito há de ser sempre o mesmo
Dragão gigante
Fecha os olhos e beija-me de modo frágil
O teu olhar tem o mesmo brilho de um atirador de facas
O teu olhar é como um sino milenarmente gigante
Sei que hás (de vir) sob a neve enluarada
Sei que hás (de vir) ferozmente enfeitiçado

(Esta poesia brotou da junção dos versos iniciais das dezoito estrofes do poema "Mas não demores tanto" de Lucila Nogueira)

sábado, 8 de outubro de 2011

Eros e Psiquê



… E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.
Do Ritual do grau de Mestre do Átrio
Na Ordem templária de Portuga
l





Eros e Psiquê - O Mito (do escritor romano Lucius Apuleius)



"Havia em certa cidade um rei e uma rainha; eles tinham três filhas de notável beleza" (Apul. Met. 4.28). A mais jovem, Psiquê (gr. Ψυχή), era tão formosa que o povo da cidade e até os estrangeiros adoravam-na mais do que a própria Afrodite; adoravam-na, mas ninguém a pedia em casamento.


A deusa Afrodite, ao ver seus templos e santuários se esvaziarem, decidiu vingar-se e encarregou seu filho Eros (gr. Ἔρως) de fazer Psiquê se apaixonar "pelo mais abjeto dos homens". O rei, pouco depois, foi informado pelo oráculo de Apolo que a filha estava destinada a desposar um "monstro cruel como uma serpente, que voa pelos ares e não poupa ninguém" e que tinha de abandoná-la no alto de um rochedo.

Entristecido, o rei obedeceu ao comando divino; ninguém viu Zéfiro, o suave vento oeste, levar a jovem até um suntuoso palácio de ouro, marfim e pedras preciosas onde serviçais invisíveis atendiam seus menores desejos. À noite, em meio à total escuridão que não permitia enxergar nada, foi consumado o casamento de Psiquê com o impiedoso monstro da profecia — o próprio Eros, que se apaixonara por ela...

Embora nunca visse o marido e nem mesmo soubesse seu nome, Psiquê viveu feliz por muito tempo. Acabou, porém, sentindo saudades da família; implorou ao marido permissão para revê-la e o deus consentiu, a contragosto. Avisou-a, porém, várias vezes, para jamais revelar nada a ninguém e que nunca tentasse ver-lhe o rosto, sob pena de perder o marido para sempre.

Mas, enciumadas pela evidente felicidade de Psiquê e impressionadas pelos ricos presentes que ela lhes trouxera, as duas irmãs mais velhas convenceram-na a contar tudo e incutiram-lhe a ideia de que somente um monstro horrendo evitaria mostrar o rosto à própria esposa. À noite, já de volta, Psiquê esperou o marido adormecer e acendeu um candeeiro; sua mão, porém, tremeu ao reconhecer o deus e uma gota de óleo fervente caiu sobre ele, acordando-o. Ao se ver descoberto, Eros ergueu voo e disse à esposa que ela nunca mais o veria.

Fora de si, Psiquê primeiro tentou se afogar, mas o rio jogou-a de volta à margem; depois, desesperada, começou a andar de cidade em cidade, à procura do marido. Encontrou várias divindades em sua peregrinação (Pã, Deméter, Hera) e, por fim, chegou ao palácio de Afrodite. A deusa, ainda enciumada e enraivecida (havia sido enganada pelo próprio filho), humilhou-a e tratou-a pior que a última de suas escravas. Encarregou-a, ainda, de quatro tarefas impossíveis (na última, tinha até de visitar o Hades), mas as próprias forças da natureza ajudaram Psiquê a cumpri-las.

Eros, enquanto isso, conseguira obter o inestimável auxílio de Zeus. O pai dos deuses interferiu na questão com divina simplicidade: transformou Psiquê em deusa e avisou todos os deuses que aprovava o casamento dela com Eros. Assim, finalmente, tudo se resolveu: os dois amantes ficaram unidos por toda a eternidade e Afrodite voltou a receber as devidas homenagens.


Fontes
O mito de Eros e Psiquê é uma espécie de conto de fadas, transmitido pelo novelista romano Apuleio (séc. II), em latim, na novela Asno de Ouro. Embora envolva um personagem mítico grego, não há fonte grega conhecida.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011



A insônia lava meus olhos
Com o teu silêncio.
Clamo, grito, esperneio
Ponho um outdoor em cada esquina
Do devaneio
E nem assim consigo tocar a tua canção.
Não vês que tudo é um sentir
Um sonho de alento
Da primavera que se aproxima